CAUDA
                          2014
Galeria Mundano, Porto




CONVERSA INTERROMPIDA
COM CONSTANÇA CARVALHO-HOMEM
(PORTUGUESE VERSION)


C. – Ok, falaste em passagem.
Sim, uma passagem que alguém fixa. Pode ser cíclica, pode ter sido um acidente, mas alguém a fixa. É a origem da premonição.

L. – Recordo-me de desde há muito, tentar formular um desejo que pudesse abarcar o máximo de consequências, suficientemente sucinto para se adequar à fugacidade de uma estrela passante. A cauda é a margem, o que está adjacente ao corpo, mas ainda lhe pertence. Pouco interessa se começamos por ver a cauda ou a coroa.
A relação entre o espectador e o mágico, não será ela mesma uma relação de desejo?
So you are…
You are…
Kelvin?

C. – Sempre me pareceu que as manchas de óleo dos motores não deviam ser um oráculo menor que os búzios. Que espectáculo comovente se, em vez de nos virarmos para o céu, fossemos bater à porta dos mecânicos a sondar o que diz o chão das oficinas! A potência do arbitrário confirmada à mais pequena fé.

L. – Esse deboche provocado por cada desvio, com a perversidade (benevolente!) de quem sabe mais do que conta (a zombaria das estrelas mortas e de tudo o que se aparenta singelo e descomprometido). É que nesta tentativa em vislumbrar alguma verdade no movimento, chega-nos a inércia no seu mais alto esplendor, na forma de preguiça, capricho ou sono, um reconhecimento horizontal do mundo.

C. – Damos-lhes nome. Hasteamos bandeira. O sentimento é bizarramente proprietário.
Estamos de acordo quanto à economia do todo, ocultar, reservar, como estratégia erótica (bastidores – sacrário).

L. – (a distância precisa entre manifesto e ilusório).

C. – Falando dos fenómenos físicos com vista à gestão da cidade, como não os ferir? É muito difícil separar sem dano o poder da   moral. Mas que importa?
A ti, venha o desgoverno.

L. – É o derrame que nos faz rir. Movimento inesperado e desenfreado.

C. – Nenhuma conversa se quer plana.